Asfixia

Você se sacrificaria por um amigo? Seria capaz de arriscar a própria vida para que um amigo pudesse viver um pouco mais? Em tempos onde a empatia é uma virtude cada vez mais rara, o texto teatral Asfixia, do dramaturgo brasileiro Afonso Nilson, aborda de modo contundente o quanto decisões relativas a um único indivíduo podem ser decisivas para sobrevivência de um grupo. Na texto, cinco mineiros presos em um desabamento tentam sobreviver à catástrofe e uns aos outros. A violência dos embates, o temor de um novo desabamento e a perspectiva de que o oxigênio seja limitado coloca as personagens em conflito. A luta pela sobrevivência individual pode colocar todos em risco. Por outro lado, trabalhar em conjunto para uma finalidade comum pode ter consequências desastrosas. Metáfora de um mundo com recursos naturais limitados que depende de ações coletivas para sua própria preservação? Crítica a sistemas de trabalho onde a competição desenfreada se torna cruel e muitas vezes assassina? Apenas o leitor que se aventurar aos subsolos deste texto poderá descobrir.
Asfixia

Asfixia é um texto teatral escrito para cinco atores. Sua adaptação cinematográfica recebeu o prêmio cinemateca catarinense de 2005, na categoria roteiro de curta-metragem. A partir de um mote bastante simples, o desabamento de uma mina, os conflitos se desenrolam de modo abruto, repletos de surpresas violentas e reviravoltas. A ação se passa em um único ambiente, que se modifica de acordo com as oscilações geológicas que permeiam a trama. Os embates morais, mais do que os físicos, permeiam o enredo em direções inesperadas, remetendo à temáticas contundentes, tensionando o texto a partir de perspectivas éticas de grande atualidade. A publicação contém posfácio do autor, do qual reproduzimos um pequeno trecho: “Há uma luta de poder nas relações que se estabelecem. Hierarquias são colocadas em dúvida, e mais que isso, noções de auto-preservação entram em contraste com a possibilidade de sobrevivência mediante o melhor aproveitamento de recursos. Não existem vilões, ninguém é totalmente mau ou bom. O assassinato não é uma alternativa em função de vinganças, ressentimento ou mesmo ganância. Tudo o que acontece, do modo que acontece, provém das escolhas perante o risco a que se está disposto a correr pela sobrevivência do conjunto, e é essa uma das questões primordiais do texto, a vida do indivíduo em face à necessidade do grupo. Os conflitos de classe que podem ser presumidos nos embates entre o Encarregado e os mineiros acabam por se esmaecer e perder importância no decorrer dos fatos. O Encarregado faz o que faz não porque possui uma posição hierárquica superior, ele o faz porque como qualquer pessoa em situação semelhante, de urgência e terror, almeja sobreviver a qualquer custo. Não existem heróis, pessoas extraordinárias, santos e vilões maquiavélicos. Há apenas homens lutando para sobreviver um minuto a mais, um segundo a mais em meio às oscilações entre a abnegação e o egoísmo assassino”.